quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Danke
"Danke, Mademoiselle." Disse o velho a uma moça que deu uma caixa de papelão.
Desde que chegou não se lembra de muita coisa daqui. Foi se esquecendo aos poucos e só se recordava do que era mais recente. Lembrava muito do último lugar que esteve. Lembrava de uma menina sorrindo. Lembrava dos dias. Lembrava que queria ser lembrado. Ultimamente estava lembrando menos.
Catava papelão na rua, era como conseguia o seu dinheiro, era basicamente o que conseguia fazer, o que seu orgulho deixava.
Ia voltar! Tinha convicção. Só não tinha clareza.
Andava muito, quase a cidade inteira. Andava para sobreviver e para ver a menina do sorriso, que há algum tempo não sorria mais.
Na verdade ele nem via mais a menina praticamente. Isso o deixava triste... Muito... Mesmo.
Andando perto do canal ele pensava no papelão, na caixa, na volta. Por cima?
Então viu um arco-íris no meio do canal imundo. As cores tão lindas que maravilhavam seus olhos, que sempre maravilharam. Seu peito se encheu naquele instante. Se virou para falar com a menina, mas ela não estava lá.
Ao longe viu o reflexo do sol piscando num instante. Aquilo que entendia bem. Bateu uma pontinha de inveja por não ser ele atrás do reflexo. Sorriu e penseou (se consolando pela falta da menina) que não precisaria mais se lembrar de ser lembrado. Já estava a mais um passo de poder ir.
Bateria um orgulho tremendo se soubesse, que por trás do reflexo daquela lente, estava a menina para lembrá-lo.
Grivicich
Foto: Daniel Faleiro
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2 comentários:
Olha, posso estar enganado mais tem mais de Clara nessa foto e nesse conto do que parece ser!!! Depois converso melhor sobre isso com vc!
Mas bem interessante mesmo!!!
Parabens!!! MT sensivel!
Bem, quando você chegar a gente conversa. Mas devo dizer que não tem mais do que parece, parece mesmo.
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