domingo, 1 de julho de 2007

Imersão


No começo era a letra "B", diriam uns.
No começo... quando tudo se criou
O universo feito de letras e palavras.
As letras desenhando tudo o que há e as palavras surgindo para escrever e fazer existir, todas elas caminhando e se transformando, num grande balé microscópico na essência das coisas.
“As palavras têm poder” irão advertir. Será o poder da própria criação?
!
Toda vez que algo surge um nome é dado. A cada coisa, a cada recém nascido, a todo ser vivente.
O inominável pode ser a destruição suprema ou a criação.

Se o mundo é feito de palavras e letras, esse mundo e o universo a sua volta poderiam ser escritos em um livro?
E esse livro...
Da esquerda pra direita? Da direita para a esquerda? De cima para baixo? De baixo pra cima? Na diagonal? Por todos os lados?

E esse livro..?
Brochura, rolo, tábuas, argila...?
Alguns concordariam comigo, muitos não.

Mergulharia dentro dele em algum momento de insana curiosidade para descobrir o que há dentro de tudo o que há.
Mas sendo uma criadora nata, seria algo desastroso tê-lo em minhas mãos. Algo tão mutável e essencial... desejaria editá-lo pela raiz, fazer do meu jeito.
Mudar uma letra bastaria.
Destruir todas as palavras tal uma bomba atômica

Imagine esse mundo se acabando, todas as letras voando no * *!
O nada tomaria conta e tudo teria de ser escrito de novo, tudo ocorreria de novo, talvez só um pouquinho diferente.

E aí alguém riscaria, rabiscaria, desenharia, faria marcas, símbolos e escreveria uma história maluca sobre um dilúvio que varrera seu mundo fazendo de um novo recomeço.
Então a cada dia fariam formas mais compactas e mais compactas e muito mais compactas para manter marcados esses nomes e as chamariam por um nome, que deliciariam uns e aterrorizariam outros, enquanto poderia também causar muita indiferença. Quem abre esses objetos desvenda parte desse universo, encara todas asquelas letras e mergulha nesse mar.
Um dia alguém, se julgando em posição para tal, irá mudar aquela letra, achando que está fazendo o que deve ser feito, mesmo sabendo ou não o resultado.
E antes que o livro se feche, as letras irão voar novamete.
No começo.

Foto: Figo
Texto: Grivicich

Um comentário:

Figo disse...

Um viva às palavras, sem elas não seríamos nada! Realmente, é interessante ter uma religião que fale dessa maneira sobre as letras :D Gostei, não sabia disso - o que tornou mais difícil a leitura -.

Você abre o próximo desafio!